A vida como ela é. Essa é a tendência de um movimento que cada vez ganha mais força no mundo da moda internacional e que abre mão dos recursos do Photoshop - software que edita imagens. Aos poucos, a novidade vem aportando por aqui. Não, claro, sem causar polêmica.
Se lá fora, Cindy Crawford, Monica Belluci e Jessica Simpsom já toparam posar sem retoques, por aqui, Luiza Brunet e Isabeli Fontana também já se lançaram ao fogo, sem medo. Este mês, a edição francesa da Marie Claire colocou nas bancas uma edição inteira sem intervenção do Photoshop, com a atriz Louiese Bourgoin na capa – com exceção das páginas publicitárias.
“O advento da fotografia digital trouxe um deslumbramento. Hoje todo mundo acha que sabe e pode usar o Photoshop. Virou uma maluquice. Esse movimento é uma resposta a isso”, pondera a fotógrafa Nana Moraes, que conta que já teve foto recusada para capa de uma revista porque a editora reclamou que ela não ‘retocou’ o umbigo da famosa em questão. “Ela não gostou do umbigo da mulher”, lembra. “Mudam até nariz de pessoas com imagem conhecida”, entrega ela.
Marie Claire sem photoshop (Foto: Reprodução)
'O problema é vender mentiras', diz Fernando Torquatto
Para o fotógrafo e maquiador Fernando Torquatto, o Photoshop é bem-vindo, desde que bem usado. “Quando está ligado à moda ou algo artístico, é algo lúdico. Você usa os recursos para chegar àquela imagem que você quer criar. Mas é diferente de quem vende um produto que não é daquele jeito ou mostra um resultado que não é o que vai acontecer. O problema é quando ele é usado para vender mentiras”, enfatiza.
Ele defende uma maior especialização dos técnicos que tratam as imagens de campanhas e revistas. “Tem que ser mais do que técnico. Tem que entender de arte, de harmonia”, resume. “A noção de estética tem que ser prioridade”, completa o maquiador brasileiro, radicado na França, Cláudio Belizário.
Belizário, no entanto, rende-se aos benefícios do programa de computador: “Eu, particularmente, prefiro as fotos menos retocadas, pois deixam a modelo ou celebridade mais perto do leitor, da vida real. Mas quando fazemos uma matéria de beleza ou uma capa fica claro que o uso do Photoshop, desde que bem empregado, é favorável a todos: modelo, maquiador, fotógrafo”.
Brad Pitt sem Photoshop na revista americana W
(Foto: Reprodução)
De cara limpa
A chamada de capa da Marie Claire americana com Jessica Simpsom dizia: “A Jessica real. Sem maquiagem, sem retoques, sem arrependimentos!”. Na reportagem, a própria declarou: “Eu não tenho que provar nada a ninguém. O que as outras pessoas acham sobre mim não é problema meu”.
Ano passado, quando posou para a Revista Época de cara limpa, Luiza Brunet foi categórica: “Na minha geração, não tinha essa manipulação das fotos. As pessoas eram o que eram, mostravam sua beleza natural. É um exagero, perde-se a personalidade, fica todo mundo parecido. Tenho 47 anos, tenho consciência disso e não preciso aparentar ser mais nova. Sempre peço para não me deixarem com o corpo de uma menina de 20 anos”.
Retoques das antigas
Fotógrafos, no entanto, afirmam que retoques são tão antigos quanto a própria fotografia. Mas eles vinham com filtros que enalteciam determinadas cores ou na hora da revelação. A diferença é que antigamente era usado com mais parcimônia.
“Se criou um mito com o Photoshop, mas na realidade, desde a fotografia existe, existe retoque. Mas antigamente era feito de uma maneira artesanal, negativo por negativo, com poucos recursos. O bom senso vinha de uma maneira mais suave. Tomava muito tempo, se inventava muito, tinha gente que usava até saliva pra suavizar alguma coisa na imagem”, revela Nana.