Entrevista com o publicitário Haroldo Corrêa


Introdução

O presente trabalho apresenta um resumo da entrevista feita com o Publicitário Haroldo César Corrêa, 38 anos de idade, e que há 15 anos trabalha no mercado publicitário.
Haroldo Corrêa é proprietário da Onda 3 Comunicação e Marketing, uma agência de publicidade bem sucedida sediada em Divinópolis, uma importante cidade do Centro-Oeste Mineiro.
Na entrevista, Haroldo Corrêa falou sobre sua trajetória profissional, sobre a atual situação do mercado publicitário em vários aspectos, ressaltou habilidades necessárias para atuar na área de Comunicação, falou sobre remuneração e regime de trabalho, entre outras questões que certamente são de suma importância para quem está prestes a se graduar em um curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda e pretende entrar para o mercado de trabalho.

Breve Histórico profissional

Formado pela UniBH, Haroldo César Corrêa iniciou sua carreira em Belo Horizonte / MG, como grande parte dos estudantes. Apaixonado pela profissão montou sua primeira agência, a HGM, que devido à inexperiência profissional durou apenas seis meses. Com o fim da agência, Haroldo foi contratado como diretor de criação pela Visage Comunicação, uma agência de médio porte que na época atendia clientes como AMIS, Barroca Tênis Clube, Total Linhas Aéreas e OAB/MG.
Haroldo conta que esta experiência foi muito enriquecedora, pois foi exatamente um período de transição que o mercado publicitário atravessava. Agências do mesmo porte estavam substituindo os antigos layout men por computadores, acompanhando um processo de informatização que mudou bastante o mercado publicitário.
Ainda em Belo Horizonte, Haroldo Corrêa trabalhou na agência Nexus Comunicação, exercendo não apenas a função de profissional de criação, mas também de planejamento e até atendimento.
Após alguns anos de acúmulo de experiência, Haroldo resolveu montar novamente uma agência própria. No ano de 2003, Haroldo se mudou para Divinópolis / MG e criou a Onda3 Comunicação e Marketing. Sediada no centro da cidade, o foco inicial foi prestar serviços de qualidade aos clientes do interior. Haroldo conta que o início foi um período crucial: “Os primeiros dois anos foram muito difíceis. Não consegui montar uma equipe eficiente para atender a demanda do mercado por não existir mão de obra qualificada na cidade.”
Após muito trabalho e persistência, esse período inicial foi vencido. Foi criada uma estrutura que permitiu que a Onda3 pudesse atender clientes importantes como: Confecções Verona, a Rede de Supermercado União, Unimed Formiga e ACIF. O bom trabalho desenvolvido ampliou as possibilidades da agência que pós o terceiro ano conquistaram clientes de maior porte em outras cidades: Grupo Dular (Itabira/MG), Grupo Itamax (Manhuaçu) e a Cooperbom em Bom Despacho.
O atendimento destas contas foi o impulso que faltava para solidificação e maturidade da carreira profissional de Haroldo, pois habilitou ao profissional através da sua agência, a conquista da principal conta da Onda3 até então, a TIM Nordeste. Hoje a Onda3 é responsável pela comunicação das revendas TIM na região Centro Oeste, Leste e Sul do Estado.
Haroldo Corrêa pontua que essa conquista foi um dos grandes marcos de sua carreira profissional.

Habilidades

    Ao falar sobre as habilidades que um profissional deve ter, o publicitário faz uma comparação interessante entre os profissionais de Comunicação e os jogadores de futebol: “Costumo comparar o profissional de comunicação como o jogador de futebol brasileiro. O Brasil é o maior exportador de jogadores habilidosos do mundo. No nosso país, grosso modo, todos gostam, jogam, entendem e até criticam. Quando se pergunta aos garotos de hoje, grande parte deles deseja ser jogador de futebol, porém só um pequeno grupo vence como profissional.
    Não é diferente com a nossa área. É comum na roda de família e amigos, ouvir alguém comentar, criticar e até sugerir algo sobre algum comercial novo que saiu na TV. Hoje nossa profissão alcançou status de glamour, sucesso e dinheiro. O nosso país é um grande celeiro de profissionais reconhecidos internacionalmente e que já exporta muitos talentos.
    E como no futebol podemos destacar as principais habilidades necessárias para ser bem sucedido. Lembrando que essas habilidades são fruto de esforço e treinamento. Existe uma máxima que diz o seguinte. Talento em comunicação é 1% inspiração e 99% transpiração.
    Inicialmente o profissional “habilidoso” tem que gostar do que faz, é impossível obter sucesso em algo sem gostar do que faz. É comum ouvirmos histórias de jogadores bem sucedidos dos quais se diziam: “Quando criança, ele dormia com a bola” – Não somos diferentes. Temos que literalmente dormir com a bola. Nossa profissão é exigente. Temos que gostar de concentração. Temos que ter agilidade. O jogo da comunicação hoje é extremamente dinâmico, não dá pra ficar esperando o time adversário sair na nossa frente. Foi-se o tempo das estratégicas românticas, em que se levava até 03 meses pra se conceber uma campanha. Hoje a resposta tem que ser imediata. Muita coisa está acontecendo a nossa volta. Canais de comunicação plurifacetados estão falando permanentemente com o consumidor. Não podemos ficar de fora. Lógico que temos que ter um plano estratégico de comunicação, mais ele deve permitir ações de comunicação de oportunidade. Como um esquema tático que permita ser alterado no decorrer da partida. 
Ter capacidade de observação, absorção das informações e filtro – Um bom time de futebol conhece o campo onde vai jogar; qual o melhor caminho para se chegar até ele, o estilo do juiz que vai apitar o jogo, as regras daquele campeonato individual, as características dos jogadores e do técnico do time rival etc. Agora comparando esse cenário como a nossa profissão, dá pra se concluir: Sem informação não vamos fazer uma boa partida, ainda que tenhamos os melhores jogadores. E mesmo que façamos parte do time e estivermos alheios a todas estas informações, não seremos escalados nem para o banco.
Ter capacidade de interagir – Jogar em equipe sem perder a capacidade individual. E sempre, treinamento, muito treinamento. O Ronaldo é ainda chamado de fenômeno, pelo que faz hoje no campo, ou pelo que já fez?
Diferente do jogador de futebol, que não tem como lutar contra o tempo, o profissional comunicação pode deixar de envelhecer, se treinar, treinar, treinar. Como se faz isso? Se informando sempre e cada vez mais, e não contentando com o caminho mais curto. Nunca aceite a primeira idéia e NUNCA USE O COMPUTADOR COMO FONTE DE INSPIRAÇÃO.”

Mercado

Ao falar sobre o Mercado Publicitário, Haroldo comenta que os profissionais da área é que fazem o mercado e explica: “Como está o mercado do futebol para o Messi hoje? Será que algum time vai querer contratá-lo? E como está o mercado de futebol para o Lopes, o Tigrão (ex jogador do palmeiras e atlético). Alguém ainda se lembra dele? O Mercado de futebol continua movimentando bilhões. A culpa é do mercado ou do atleta que não se preparou adequadamente para ele? O mercado de comunicação está a todo vapor por várias razões, entre elas, eventos internacionais que estão e acontecerão no país gerando muitos investimentos, principalmente em comunicação; exemplos:
- Rio 2016 lança edital de seleção de agência para desenvolver a marca dos Jogos Olímpicos - www.rio2016.org.br
- O Sinapro MG está colocando o nosso mercado em sintonia como os principais mercados do pais (Rio e Sampa), através da realização de eventos, palestras, premiações etc. (www.sindapro-mg.com.br)
- Novas mídias gerando oportunidades para novos profissionais. Ao contrário do inicio do processo de informatização, as agências estão contratando mais. Cada vez precisa-se de mais “profissionais qualificados” para atender ao mercado, que por possuir uma gama maior de mídia, tem se mostrado mais exigente e seletivo.
- Tecnologia gerando novas ferramentas e democratizando o uso informação. Informações que demoravam meses e até anos para chegar aos profissionais, hoje demoram segundos.
- Melhoria da qualidade de vida da população brasileira;
- Estabilidade política e econômica
Tudo isso tem cooperado para manter o mercado otimista e em crescimento.”

Remuneração e regime de trabalho

Perguntado sobre Remuneração e regime de trabalho o publicitário fala que, esta questão varia muito se considerando vários aspectos como profissionais iniciantes ou que já são velhos conhecidos da área: “Regime de trabalho não é escravo porque agente gosta do que faz e recebe por ele. Você só tem hora pra começar! Colocando a brincadeira de lado, é um regime que exige muita dedicação.”

Dificuldade entrar no mercado

Haroldo comenta que a dificuldade de entrar no mercado, sobretudo o mercado mineiro tem suas particularidades: “Essa é uma característica muito arraigada ainda do mercado mineiro, que é o QI – Quem indica. Na minha época dizíamos que você teria que ter o chamado Pistolão, que era uma pessoa influente que podia ser de dentro da agência ou na maioria das vezes fora (cliente, político e etc) que te indicava.
Não tinha erro, o Pistolão te indicava você estava contratado. Acho que isso se deu por que antigamente as grandes agências e veículos mineiros tinham como principais clientes, contas de governo. Não sei se era lenda urbana não, mais esse era o critério que se ouvia.”

Principal realização

Quando questionado sobre qual sua principal realização, o publicitário nos disse que alem de sua pequena filha, ele tem orgulho de ter criado sua própria Agencia a Onda3 e completa: “Quanto às realizações profissionais, penso que as realizações de amanhã deverão sempre ser melhores e mais importantes do que as realizações de hoje.”


Ser publicitário

Segundo o Haroldo ser publicitário é: “Não é ser o Iluminado; não é ser o Criativo; não é ser o Artista; não é ser o Maluco Beleza; não é ser o indisciplinado. É ser, antes de tudo, Profissional preocupado com Resultado; um homem de negócios que tem como matéria prima a informação e que a utiliza como ferramenta capaz de tocar a emoção das pessoas transformando-as em consumidores.”

Comunicação

Para o publicitário a Comunicação é relacionamento. Ele explica: “Porque é assim que se vende hoje. As empresas modernas não desenvolvem mais campanhas de fidelização, mas sim de relacionamento. A comunicação agora não informa – “Conta para um amigo”; não fala – “conversa”.

Conclusão

    Conversar abertamente com um experiente profissional da área serviu de base para perceber o quanto é importante o contato com o mercado. Ficou claro que além do amor pelo trabalho e empenho que deve haver na parte teórica, a experiência que a prática traz é fator decisivo no crescimento profissional na Comunicação.
    Estar sempre atualizado com novas tendências e tecnologias, manter bom relacionamento durante o desenvolvimento da carreira, ser ousado e ético, são algumas das atitudes essenciais para a boa formação do comunicador contemporâneo.
    Durante a entrevista, um conselho marcante foi o de se envolver com a área de Comunicação o quanto antes para sentir o que realmente é o mercado. O ideal seria poder fazer pelo menos um estágio para e ter contato com o dia-a-dia do profissional, para abrir os horizontes. Trabalhar em uma agência, mesmo que pequena, pode ser extremamente enriquecedor para a construção do conhecimento Publicitário.
    Agarrar as oportunidades e não ficar estático é a essência de quem quer aprender a “conversar” com os diferentes públicos.